domingo, 22 de março de 2015

TAC 2015 - Fase 02 Serra do Sol

TAC 2015 Fase 02 – Manaus – Serra do Sol – Manaus

Às três da manhã estávamos todos nos acordando e nos preparando para começar mais uma aventura. Quatro da manhã e todos prontos, organizados e dispostos a pegar 1.000km de asfalto até Santa Helena na Venezuela.

Saímos do hotel e fomos para um posto comprar gelo e alguns entala-gato para consumir no trajeto e antes das cinco da manhã estávamos rodando em direção a Boa Vista. Estrada tranquila com um pouco de chuva em quase a maior parte do trajeto, porém quanto mais nos aproximávamos da linha do Equador o céu ia ficando limpo e o calor ficando forte, a paisagem seca e algumas vezes árida. 

Tudo ia tranquilo quando paramos em mais um posto no trajeto para abastecer a Caixa de Extrato de Tomate, apelido do Suzuki Vitara vermelho do Arthur, não podia ver um posto que já entrava para abastecer, depois de encher o tanque pela quinta vez depois de sair de Manaus saímos do posto, quando de repente escuto pelo rádio Evandro falando que a rodinha do Marcão tinha caído e a Ranger estava no acostamento, dei a volta e me deparei com o carro no acostamento e sem a roda traseira esquerda, Bruno já estava indo resgatar a roda em seu Troller e ai foi colocar a cabeça para funcionar e resolver a bronca, afinal era um domingo e realmente não teríamos como resolver o problema.

Cabeça fria e capacete de gelo! Só assim resolvemos as broncas. Ligamos para um amigo em Boa Vista, Fernando, e pedimos um reboque, além de tentar agilizar alguma coisa em relação à oficina e peças. Como Meia-foda já tinha ido ano passado para Serra do Sol e faz parte da equipe de apoio, designei para que levasse o grupo até Santa Helena enquanto eu seguia com Marcão, Evandro e Leandro para Boa Vista resolver a bronca do carro. 

Na segunda-feira começou nossa correria para consertar a Ranger do Marcão, peça de carro é algo complicado, algumas só levando a peça para ver se casa, existe uma série de fornecedores do mesmo tipo de peça, mas ai que tá o problema, sempre existe uma diferença de medida e ai é um martírio conseguir a certa, na verdade não conseguimos, apenas uma aproximada e ai um trabalho de tornearia do nosso amigo em Boa Vista Fred, especialista em tornearia, para poder encaixar no local do modelo anterior. Nesse meio tempo fizemos uma revisão na Frontier, pois verificamos que havia um probleminha na barra de direção e na Hilux aproveitei para trocar duas cruzetas traseiras.

Durante o dia decidimos que Marcão iria deixar a Ranger em Boa Vista e seguir com Leandro para Serra do Sol, uma vez que ambos estavam sem Zequinhas, então seguimos para Santa Helena no fim do dia para encontrar o grupo. Pegamos estrada já era noite em Boa Vista e terminamos chegando tarde a fronteira, que fecha às 21:30hs e terminamos dormindo 20km antes do grupo e aproveitamos para trocar os pneus da Hilux.

A fronteira abriu às 07:30hs e seguimos para Santa Helena e encontramos o grupo no Hotel Anaconda, foi quando tive uma noticia chata, o pessoal saiu no fim do dia para providenciar alguns suprimentos e ao retornar viram uns caras saindo correndo para um Cheroka e partindo em velocidade, ficaram desconfiado e foram ver os carros, foi quando descobriram que haviam furtado a barra de super-led da Hilux do Raul e certamente teriam levado outros acessórios se não tivessem chegado. O pessoal chamou a policia, registraram o ocorrido, mas no final ficou o prejuízo, uma barra dessa custa na faixa de R$ 2.000,00 e a certeza que os veículos não estão protegidos no Hotel Anaconda e que existem perigos na cidade.

Tudo resolvido e partimos para Serra do Sol, passamos pelas barreiras da policia venezuelana sem nenhum problema e chegamos ao acesso à estrada que nos levaria até Serra do Sol. Como sempre uma oração com o grupo de mãos dadas, algumas informações e partimos, a cerca de 400mts da Ladeira do Raul, antes de entrar na primeira matinha, minha Hilux começou a sair fumaça de fio queimado pelo ar-condicionado e parei imediatamente, desligamos a bateria e fomos atrás do motivo do curto que havia gerado aquela fumaça e descobri ser do comando do relê de um dos faróis extras, o fio positivo estava em contato com metal que cortou e gerou o curto, retirado o problema ai começamos a nos deslocar. 

Chegamos a Ladeira do Raul, aquela tensão, subi meu carro e  logo depois veio Raul a pé conversar comigo, me questionar se queria que eu colocasse a cinta e assegurasse assim a impossibilidade de vir a virar ou se lhe daria a chance de tentar novamente em sua Hilux. Logicamente que concordei que ele deveria tentar, afinal existia um trauma naquele lugar e seria necessário exorciza-lo e foi aquela festa assim que o Raul subiu, afinal ano passado ele capotara com seu Wrangler na mesma ladeira, finalizando assim sua aventura, mas como ele disse, perdeu o trauma e estava feliz, sim, eu também estava por ele e pelo sofrimento que foi ano passado presenciar o que aconteceu. Logo depois veio Leandro, subiu tranquilo, mas infelizmente o sistema de roda livre da Frontier é frágil e não aguentou o tranco do final da ladeira e quebrou, na verdade estourou o cubo completamente, subi o restante do pessoal e deixei Meia-foda sem subir, pois tinha que tomar algumas decisões.

Já estávamos sem o carro de Marcão e agora a Frontier, ambos carro de apoio, decidi que deveriam voltar em Santa Helena, Leandro, Meia-foda e Evandro e procurar a peça ou tentar ver uma solução, montamos acampamento, fiz uma carne picada e uns bifes na chapa, pessoal bebendo um pouco e aguardando o desenrolar do acontecido.

Já era cerca de 21:00hs quando o pessoal retornou de Santa Helena, Meia-foda, Leandro e Evandro dentro da L200, tinha pedido a Meia-foda que caso não consertasse a Frontier de Leandro não o deixasse voltar para Boa Vista e sim trouxesse ele que arrumaríamos um jeito de dividir as coisas e levar todos. Leandro estava depressivo, afinal não era para menos há dois anos que preparava seu carro para TAC, mas infelizmente Nissan não é um veículo muito comum na Venezuela e por isso não tinha a peça e retornar até Boa Vista iria atrasar muito a expedição, mas companheirismo é isso e com dois carros a menos, Ranger e Frontier e com algumas coisas para trás, mas os companheiros não, todos juntos e seguimos.

A noite foi longa, roncos e barulhos estranhos provenientes das barracas, como sempre uma sinfonia de assustar onça, embora aqui não tenhamos esse problema. A noite foi fria, às vezes o céu nublado, às vezes tão estrelado que dava vontade de que o Sol nunca mais saísse, a paz da noite só era interrompida pelos roncos estridentes, além de Leandro, Willy não fazia mais parte desse grupo, mas entrou o Zé Pequeno, 1,92 e 130kg de puro ronco e ainda um dos Cariocas que não fez feio na concorrência, Fabiano é bruto no ronco. Não estou exagerando, escutando pink Floyd no meu iPod ainda conseguia escutar algumas notas altas, como diz Matteo, esse pessoal é doente!!!

Acordamos cedo, acampamento é assim mesmo, oito da manhã todos prontos para partir e na primeira subida a L200 mostrou que estava pesada, transferi três bombonas de Diesel para minha Hilux, esvaziamos uma bombona de água e aliviou o peso da L200, e de contrapartida colocamos um nome naquela subida, Subida do Meia-Embreagem, já o Vitarinha vermelho, caixinha de tomate do Arthur, teve um probleminha, caíram os parafusos da pinça de freio, em pouco tempo foi resolvido e começamos nosso trajeto em direção a Serra do Sol. 

Raul estava muito feliz, afinal no ano anterior havia se acidentado e não conseguiu vivenciar toda a aventura, ficava maravilhado com o trajeto e com uma confiança cada vez maior em seu novo carro, afinal para quem possui nove veículos da marca Jeep e este era seu primeiro veículo Japonês, brincou dizendo que os amigos já o estavam excluindo do clube de Jeep do Peru. O pessoal do Rio estava acostumado com trilha de erosão e subidas, então estavam safo no trajeto, aproveitando bem a paisagem e colocando os Vitarinhas para moer. Os argentinos estavam eufóricos com toda a adrenalina do trajeto e com uma paisagem única, Guilhermo repetia que a expedição valia cada centavo e que estava encantado, olha que ainda tem muita coisa pela frente.

Para quem conhece o trajeto sabe o quanto é show andar aqui, erosões, subidas íngremes, descidas mais ainda, uma verdadeira aventura off road, para os novatos nesse tipo de terreno em muitos momentos o corpo treme de medo com o trajeto, para os veteranos, uma grande oportunidade de brincar com seus carros. Às 15:00hs chegamos na cachoeira do K e fomos curtir um banho de primeira e lá pelas 16:00hs subimos a cachoeira e montamos nosso acampamento a 20mts da beirada da queda da cachoeira, som da água caindo, vento frio e começamos mais uma noite de churrasco e muita conversa fiada. A noite fez frio, eu e Marcão dormimos de rede, amarradas entre a Hilux e a L200, como estavam praticamente uma colada na outra dividimos o edredom pra aguentar o frio, acho que não precisava ter comentado isso!

O dia amanheceu e começaram os trabalhos para organizar os carros, desarrumar as barracas, comer alguma coisa e partir, mas antes uma prece de frente à pequena capelinha de pedra que construíram há alguns dias, certamente algum venezuelano crente em Santa Maria fez aquela capela e colocou a imagem da Santa. Pela frente iriamos pegar alguns trechos travados, como a decida da pedreira a passagem do rio, além dos trechos perigosos como a ladeira do Japonês, particularmente considero o trecho mais perigoso dessa trilha, inclinação absurda e erosões que viram um carro e uma queda com mais de 50 metros de altura. Fomos aos poucos transpondo os obstáculos e curtindo uma paisagem única, que encanta a todos que vivenciam essa trilha. 

Cerca de 15:00hs chegamos na Tapera, que será nosso acampamento base nesses dias, descarregamos os carros, deixando-os mais leves e fomos tirar fotos dos veículos na Serra do Sol, ou até onde eles conseguem subir. A vista é deslumbrante de toda a Gran Sabana Venezuelana, da Serra do Sol e do Monte Roraima, só indo lá para ter ideia do que estou escrevendo. Ficamos um bom tempo contemplando toda àquela maravilhosa obra de arte da natureza. 

Voltamos para o acampamento, banho na cachoeira, preparação do farnel e conversa fiada entre todos do grupo e o frio começou a bater, pessoal começou a se deslocar para suas barracas, agora bem afastadas umas das outras, o que facilitou o sono de alguns devido a distancia dos roncos. Mais uma vez eu e Marcão nas redes, mas não próximos dessa vez, a madrugada nos castigou com frio, o pessoal nas barracas fechadas reclamaram, imagina na rede, pior que às 02:30hs começou uma chuva de vento, preguiça de montar a barraca peguei uma lona de plástico e cobri minha rede, Marcão mudou a dele de lugar e fugiu da chuva, deu pra bater queixo, só não foi pior porque fiquei com o edredom e Marcão estava de casaco de frio, mas ainda prefiro o frio, o calor pra dormir é pior!

O dia amanheceu bonito, o Monte Roraima estava descoberto, algo meio raro, tomamos café da manhã e pegamos nossos carros em direção ao Mirante do Monte Roraima, cerca de 13km de nosso acampamento, no meio de serras, subidas e descidas íngremes e cascalhadas e passagens estreitas de igarapés, uma belíssima trilha para o começo do dia, demoramos um pouco para achar a entrada da trilha, a descida de uma serra para um vale, afinal já havia alguns anos que não se passavam por esse caminho, mais um belíssimo trajeto que vale a pena  conhecer. 

No mirante tiramos fotos do grupo, dos carros, apreciamos aquela paisagem belíssima, como todas na trilha de Serra do Sol. Depois de alguns minutos iniciamos o retorno da trilha do Mirante do Monte Roraima e seguimos para a Cachoeira da Revista, para a famosa foto dos carros na parte superior da cachoeira. 

Ficamos um bom tempo, todos tomando banho na cachoeira, alguns escalando, outros bebendo e conversando e claro aproveitando o visual daquele lugar, foram ótimas horas de descontração. Aproveitamos o fim da tarde e fomos ver as lapides, formações rochosas que lembram lapides de cemitério, mais uma obra de arte da natureza. Pessoal cansado do dia e retornamos para o acampamento, organizar o lixo, recolocar o que havíamos retirado dos carros e deixando tudo preparado para poder partir no dia seguinte de volta a Santa Helena.

Meu planejamento era acampar novamente no Salto K, mas o pessoal do Rio e o Bruno de Mossoró estavam com uma transportadora em Boa Vista aguardando os carros para despacharem, então observei o andar do retorno para ver a possibilidade de seguir para Santa Helena direto.

Toda trilha na ida é mais travada, no retorno ela flui, ainda mais uma trilha com Serra do Sol, como na ida os que não conhecem o trajeto ficam deslumbrados e ao mesmo tempo tensos o andar é mais travado, já no retorno é bem mais rápido e quando vi já estávamos no Salto K e era cedo, cerca de 14:00hs e certamente chegaríamos até Santa Helena com luz do dia e resolvi seguir ao invés de acampar, para alegria dos cariocas, principalmente o Chico e tristeza dos Argentinos que adorariam acampar ali novamente. 

Subimos a Ladeira do Índio, outro desafio bem assustador para quem tem medo de altura e inclinações radicais, mas o pessoal já estava mais safo e tudo foi fluindo até a passagem de uma matinha onde um tronco preso no chão atrapalhou nosso dia perfeito.

Visualizei o tronco do lado esquerdo e avisei pelo rádio, inclusive com repetição em portunhol para Raul entender, mas infelizmente ele bateu com tudo e todo peso de sua Hilux no pequeno tronco e como consequência empenou a manga de eixo, braço de direção e abriu a roda ao tentar rodar até sair da matinha a caixa de direção foi pro espaço. Ai entra em ação nosso mecânico para Off Road e fria automotiva, Evandro Maia, mais tarimbado em 4x4 que qualquer outro meca, e ai conseguiu dar um jeitinho de voltar um pouco a roda e isolar a bomba do hidráulico para não ir pro saco de lixo também.

Mas ai a noitinha chegou, embora cedo, finalizamos o trajeto a noite, confesso que adoro fazer Off Road a noite, tenho me policiado para evitar, pessoal fica tenso e reclama um pouco, mas que eu gosto eu gosto, não vou mentir, e andar naquelas serras a noite é tudo de bom, além de ser belíssimo ver o comboio com os faróis iluminando o chão, o céu e as serras. 

Chegamos a Santa Helena e fomos jantar primeiro, depois acomodações, não deu pro grupo ficar em um único hotel, era fim de semana e muitos brasileiros vão fazer compras na cidade, mas dividimos o grupo em três hotéis e marcamos de nos despedir no dia seguinte, afinal estava finalizada a segunda fase da TAC 2015. 

No dia seguinte todos na pracinha para se despedirem, os cariocas e Bruno seguiriam para Boa Vista pegar um avião para Manaus e deixar seus carros na transportadora, eu iria com Raul ficar em Boa Vista para resolver o problema do carro dele, Marcão também para pegar seu carro e dia 23 a noite todos nos encontramos novamente em Manaus para mais uma despedida e quem ficou seguir para a Fase 03.

Considerações

Serra do Sol foi um trajeto que entrou no roteiro da TAC, embora não tenhamos lama, atoleiros e afins, que alguns definem como sendo a alma da TAC, mas eu defino como Alma da TAC a aventura Off Road em sim e Serra do Sol, como definimos esses trajeto pela Venezuela, é aventura pura, com mais adrenalina que muito trajetos anteriores da TAC, pois em vários momentos você põe em risco sua vida, e a confiança em seu equipamento tem de ser perfeita, afinal quebrar no meio da Serra do Sol é simplesmente um pesadelo inesquecível. 

Para quem não está acostumado com esse tipo de terreno é um grande aprendizado, você percebe nitidamente a evolução de quem está enfrentando pela primeira vez aquela situação de erosões e subidas íngremes, para os que já estão acostumados o importante é preservarem seus equipamentos, afinal embora estejam adaptados as trilhas desse nível, mas estas estão próximas de locais e  vias de socorro, bem diferente de quem está na Gran Sabana, então também é mais um aprendizado. 

Eu sou apaixonado por essa trilha, seja pelo desafio dela aos veículos e condutores ou o perigo que ela impõe para os que não a respeitam, mas principalmente pela beleza da paisagem desse trajeto, estar por quilômetros andando nas cristas das montanhas, subidas e descidas belíssimas e desafiadoras é realmente deslumbrante a passagem dessa trilha, além do fato de acampar no meio do nada com noites frias e estreladas, simplesmente é fantástico estar naquele lugar. 

Como esse ano o grupo foi pequeno, em comparação ao ano anterior, como disse dividi a TAC em três fases reduzindo assim a quantidade de participante por fase e dando a oportunidade de curtirem aquilo que mais apreciam, mas voltando ao grupo, tudo foi perfeito, todos os grupos eram participativos e brincalhões, todos interagiram perfeitamente e fizeram do trajeto um divertimento com conversas e zoeiras no rádio, todos estão de parabéns, entenderam como funciona a TAC e como funciona o trajeto de Serra do Sol, tudo foi perfeito, só tenho elogios ao grupo todo. 

Um comentário:

Magali Lima disse...

Boa noite Sergio

Que AVENTURA!!!!
Muito bom o relato das expedições.
Parabéns pra vocês

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