Uso de plataforma global marca nova fase para Ford
Por MIKE RAMSEY / The Wall Street Journal
Um novo utilitário esportivo lançado esta semana pela Ford Motor Co. mostra bem o quanto o diretor-presidente Alan Mulally mudou a maneira como a montadora desenvolve e produz seus carros.
O Escape 2013, que deve chegar às revendedoras americanas no segundo trimestre, será feito com um conjunto de peças e componentes que a Ford também vai usar para fabricar seu compacto Focus, duas futuras minivans e pelo menos seis outros modelos. Esses componentes em comum, conhecidos na indústria como uma "plataforma", vão aparecer em veículos montados e vendidos na América do Norte e do Sul, na Europa e na Ásia.
Em meados do ano que vem, a Ford espera produzir mais de dois milhões de veículos por ano em todo o mundo, feitos com as mesmas peças básicas e montados em fábricas que usam o mesmo tipo de ferramentas. O objetivo: alavancar as economias de escala em projeto e produção, e assim conseguir uma enorme economia no seu orçamento anual de US$ 50 bilhões para autopeças.
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Ford Escape 2013
"Há tantas facetas nessa economia que é difícil precisar uma quantia exata", disse Eric Loeffler, engenheiro-chefe do novo Escape. "Você economiza dinheiro literalmente em todas as áreas de desenvolvimento, desde o tempo dos engenheiros até as peças e serviços, ferramentas e máquinas."
A estratégia do compartilhamento vai muito além do novo Escape. A Ford está apostando, ao todo, em cinco plataformas em comum, que devem gerar vendas de mais de seis milhões de veículos em meados da década. Cinco anos atrás a Ford tinha 15 plataformas, que respondiam por vendas de 6,6 milhões de veículos.
Ao compartilhar as peças, a Ford espera produzir uma série de veículos novos, de custo competitivo, que poderá comercializar em mercados emergentes. A meta da empresa é vender 8 milhões de veículos por ano globalmente, ante 5,5 milhões no ano passado.
A Ford não é a única a adotar as plataformas unificadas. A rival General Motors Co. está seguindo na mesma direção. Ela agora compartilha peças entre o Chevrolet Cruze e a maioria dos outros compactos que fabrica pelo mundo. A Chrysler Group LLC está mais para trás, embora tenha esperanças de fazer o mesmo com sua parceira, a Fiat SpA.
Montadoras europeias já utilizam peças em comum há vários anos. A Volkswagen AG, por exemplo, usa as mesmas peças para o Golf, o Jetta, o Audi A3 e outros carros pequenos, cujas vendas globais superam 2,4 milhões, segundo estudo da consultora PricewaterhouseCoopers. A Volks está preparando componentes comuns que devem ser incluídos em 4 milhões de veículos por ano até 2016.
Antes de Mulally entrar na Ford em 2006, as operações da empresa nos Estados Unidos, Europa, Austrália e outras regiões muitas vezes desenvolviam seus próprios veículos, duplicando esforços com enormes gastos.
Os analistas estimam que uma montadora gasta entre US$ 800 milhões e US$ 1 bilhão para desenvolver um novo modelo a partir do zero. A Ford anunciou que vai custar cerca de dois terços menos projetar um novo veículo utilizando plataformas compartilhadas do que para desenvolver um veículo totalmente novo.
No passado, a Ford e a GM já tentaram desenvolver plataformas globais, mas suas divisões regionais, em rivalidade mútua, quase sempre venciam, impedindo a colaboração. Há uma década, a GM tentou desenvolver componentes comuns para carros pequenos, para suas marcas Chevrolet, Opel e Saab. Mas acabou com carros tão diferentes que não podiam ser produzidos na mesma fábrica.
Mulally, que entrou na Ford vindo da fabricante de aeronaves Boeing Co., está decidido a quebrar o impasse. Ele disse que ficou surpreso, quando entrar na montadora, ao saber que ela produzia um compacto Focus na Europa e outro completamente diferente para os EUA. Dessa forma, a Ford não podia comprar peças comuns para os veículos, e nem sequer usar suas fábricas Focus na Europa para fabricar carros para os EUA, ou vice-versa.
"Você pode imaginar produzir um [Boeing] 737 para a Europa e outro 737 para os Estados Unidos?", disse ele na época.
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