Mundo off road...Rally Bamako

BUDAPESTE - BAMAKO 2009

Já há algum tempo iria fazer uma matéria sobre o Rally BB – Budapeste – Bamako, atualmente o maior rally trans-shaara, principalmente depois que o Dakar deixou o continente Europeu e Africano por problemas de segurança. Para nossa felicidade já vai para o segundo ano consecutivo na América do Sul. Porém ao ler o texto do Português Domingos Melo Simões, competidor, escritor, aventureiro e apaixonado pelo off Road, tudo isso como hobby, afinal tem que sobrar um tempinho para o trabalho.

Como disse, gostaria de fazer uma matéria sobre o Rally BB, mas em conversas com o Domingos Melo, li sua matéria, que será publicada, na Revista OffRoad4x4, e com sua permissão postarei na integra no blog. Tenho certeza, apesar de que algumas palavras e termos do português de Portugal ser uma pouco estranho e aos mais distraídos sem sentido, não vi a necessidade de traduzir para o português do Brasil... (risos!). O texto do Domingos é acima de tudo poético, por isso espero que vocês viagem junto com ele em suas visões deste rally trans-shaara.

Sérgio Holanda

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“BUDAPESTE – BAMAKO”
O GRANDE DESAFIO AFRICANO

Quando tomei conhecimento do Budapeste – Bamako e vi as primeiras fotos, recordou-me uma série de filmes cómicos, já com pelo menos duas décadas, que satirizavam sobre as mais loucas viagens e corridas automóveis do mundo.

O B2 ou BB é essa loucura tornada realidade.

O húngaro Andrew G. Szabo encontrava-se em Conakry, capital da Guiné, quando o único avião comercial do país se despenhou. Encontrou a solução para o seu regresso a casa num Suzuki Samurai bem “fora de prazo”. Acompanhado por um guia local, em pleno Agosto, propôs-se fazer as 1200 milhas que o separavam de Bamako, capital do Mali. Esta viagem através da savana africana mudou-lhe a vida. Estava decidido, tinha que participar no Dakar.

“Chegado a casa conclui que os custos para participar no Dakar eram exorbitantes e que a forma como a prova estava organizada não deixava espaço para a participação dos condutores amadores.” disse Szabo. “ Senti também que o espírito de aventura do Dakar estava a ser preterido sendo substituído por interesses de marketing e cobiça corporativa.”

Mudou de ideias. Não queria mais participar no Dakar porque os princípios iniciais da prova já estavam desvirtuados. Contudo, a vontade, não morreu.

Szabo idealizou uma prova à sua imagem, com baixos custos e regras liberais mas com toda a experiencia das épicas aventuras trans-saharianas.

Assim nasceu o Budapeste – Bamako.

No dia 26 de Dezembro de 2005, 42 veículos estavam alinhados em Budapeste preparados para o grande desafio africano – chegar a Bamako. A centena de participantes que se perfilou não imaginava que iria impulsionar um dos eventos motorizados jamais realizados.

De carro, de camião ou de mota, qualquer um pode participar nas duas modalidades do maior desafio motorizado realizado no continente africano: ou participa na prova de competição ou na expedição, pura aventura e passeio.

Diferentemente do Dakar, não é necessário um veículo de centenas de milhares de euros, equipa de apoio, etc. O principal objectivo do Budapeste – Bamako é incentivar a participação dos amadores e seus carros particulares.

O primeiro carro que Szabo usou na corrida inaugural foi um ligeiramente levantado Lada Niva que lhe custou menos de € 1.200,00.

O BB é um misto de orientação, geo-caching e condução off-road. Na categoria competitiva é uma prova onde as equipas vão arrecadando pontos ao completar as etapas em tempo e ao encontrarem geo-caches e geo-checkpoints.

As etapas têm habitualmente entre 400-600 quilómetros e 8-10 geo desafios. Alguns desses desafios pressupõem a interactividade com gente local e é necessária a ajuda destes para completa-los. O geo – caching obriga os participantes a sair do veículo, a experimentar África, a sua cultura, a “respirar” as suas vivencias.

A distância a percorrer ronda os 9.000 quilómetros e atravessa alguns dos mais exigentes trilhos do deserto e belos kasbahs de Marrocos antes de entrar no território do Sahara Ocidental com checkpoints por todo o lado e zonas fortemente minadas. Na Mauritânia as equipas têm que ultrapassar as dunas, o calor e as tempestades de areia. O desgaste das grandes etapas, a dificuldade dos trilhos e os atascansos na areia começam a deixar mossa nos participantes. É aqui que uns desistem e outros perdem tempo precioso com os seus veículos.

Chegadas ao extremo sul do Sahara, as equipas dirigem-se à capital do Mali através de estradas e trilhos de terra vermelha, esburacadas e enlameadas numa paisagem de savana com rara vegetação, cabanas de palha e argila, embondeiros e crianças a dar as efusivas boas vindas com sorrisos rasgados e apelos a presentes.

Na categoria adventure as exigências de percurso são menores e a adrenalina flui menos. O prazer da expedição, da paisagem, da fotografia, dos cheiros e dos sabores e da descoberta emergem. Não que não haja desafios, que os há. Mas surgem de uma forma lúdica, de camaradagem e interacção entre participantes.

O percurso para a categoria competição e aventura são diferentes mas os participantes encontram-se em vários locais do trajecto. Um deles, na Beach Party, programada no próximo ano para os arredores de Nouakchott, capital da Mauritânia.

O Budapeste – Bamako é também um evento humanitário. Todas as equipas são encorajadas a levarem artigos escolares, ferramentas, medicamentos e equipamentos médicos para distribuir pelas comunidades africanas que vão visitar. No último ano o BB distribui cerca de € 700.000,00 em donativos pelas comunidades africanas.

Todos os anos os participantes crescem exponencialmente e o ano passado o BB tornou-se ainda maior que o Dakar.

Em apenas quatro anos o BB tornou-se não só no maior rally trans-sahariano como no maior rally humanitário de África. Por si só representa 5% do turismo anual da Mauritânia. Mais de 600 pessoas e 250 veículos participaram no rally em 2009. Hoje o BB é um fenómeno cultural complexo. Umas equipas inscrevem-se pela competição, outras pela expedição e pelo passeio, outras ainda pelas festas no deserto. Contudo, sem dúvida, o denominador comum é e será sempre o sabor da aventura.

O Budapeste – Bamako 2010

O próximo B2 parte de Budapeste, capital da Hungria, no dia 16 de Janeiro e termina em Bamako a 01 de Fevereiro.

No próximo ano, os festejos da véspera e da partida, prometem ser o maior acontecimento de sempre no desporto automóvel.
Toda a noite anterior à partida será de rave-festival, com músicos e dj´s europeus e africanos. As equipas das duas categorias partem juntas de um dos mais belos cenários da capital húngara apoiadas por uma enorme multidão de fans.

As duas categorias “navegam” em diferentes trilhos até Bamako apenas se encontrando em Kiffa e, finalmente, em Bamako.

As categorias adventure e Bamako Spirit serão percorridas em trilhos menos exigentes para veículos, pilotos e acompanhantes.

Na categoria racing os trilhos serão mais duros e espectaculares. Será um clássico rally sahariano. Contudo, ressalvando umas três ou quatro etapas, qualquer veículo automóvel estará apto a cumprir as exigências dos desafios diários e mesmo para essas estão previstas escapatórias. É um rally euro – africano “à la carte”.

A Beach Party realizar-se-á a 150 kms de Nouakchott, capital mauritana, no dia 10 para a categoria racing e no dia 11 para a categoria adventure.

Se para a categoria de competição ainda restam alguns lugares, na categoria aventura há já muito tempo que as inscrições esgotaram, restando a inscrição em lista de espera, onde a fila já vai longa.

De qualquer forma, quer Alá quer Deus, são grandes e, definitivamente, em 2011 haverá mais e sempre melhor Budapest – Bamako.

Até Budapeste…

Domingos Simões dmelosimoes@sapo.pt
Fotos. Budapest- Bamako org. http://www.budapestbamako.org/en/